Em
decorrência do desmatamento indiscriminado, o saci corre
sério risco de ser extinto. Algumas escolas deixam de
lado personagens da cultura popular brasileira e
festejam o Halloween (dia das bruxas).
Madrinha Catarina fora quem introduziu o saci em nossas
vidas, minha e das outras crianças lá da roça. Quando
criança , morava na roça em São João dos Cavalheiros,
município de Três Barras em Santa Catarina. Na boca da
noite estava eu e mais algumas crianças na casa de
madrinha Catarina nos esquentando a beira do fogão a
lenha assistindo-a contar histórias, de repente, ouvimos
um tropel, um dos cavalos relinchava desesperado,
madrinha nos disse que era o saci-pererê o responsável,
ninguém teve coragem de sair e conferir...Pelo sim e
pelo não resolvemos dormir na casa dela, de madrugada
outra confusão, desta vez, a barulheira vinha da
cozinha, alguém estava mexendo nas panelas, nos
talheres, parecia estar jogando louça na parede, de novo
madrinha nos disse que era o saci-pererê que estava
aprontando...Na manhã seguinte, lá estava o cavalo com a
crina e o rabo com trancinhas, sem dúvida: era coisa de
saci. Bom, cresci e deixei essa história de saci de
lado. Mas...
Outro dia fazendo compra num supermercado gigante em
Curitiba, encontrei um saci morando dentro de uma caixa
de sabão em pó, ele me implorou para que o adotasse. Eu
disse a ele –Agora sou uma mulher adulta e essa história
de saci não me interessa mais! Isso é coisa de criança!
Ouvi um assobio, era o saci me chamando lá de dentro da
caixa de sabão. Bati o pé e disse: eu não vou. Eu não
vou. Você não me assusta mais. Mas o diabo do saci não
parava de tirar as coisas do meu carrinho para jogar
fora. Assim fomos lutando, até que me cansei e resolvi
ouvi-lo. Ele queria morar na minha casa. Aí, perguntei:
você só pode estar brincando comigo, né saci? Sabia, que
os meus filhos já cresceram e eu quero sossego? Depois
de ouvir as suas razões, entendi sua preocupação com sua
possível extinção. Falou em extinção, falou comigo. Ah,
me rendi rapidinho ao seu apelo . O problema é que saci
não obedece a estranhos. Eu corria para um lado e ele
aparecia em outro lugar, ele usa um gorro vermelho que
lhe dá o poder de tornar-se invisível, fizemos uma
bagunça danada dentro do supermercado. Quanto mais a
freguesia fugia mais travessuras ele fazia. Era só gente
correndo apavorada, ...E eu perguntava a todo mundo:
Hei, você viu o saci? Cadê o saci que tava aqui? Cadê o
saci que tava aqui? Você viu o saci por aí? Que barulho
é esse? Que negócio é esse? É o saci que está quebrando
tudo...Saci sai daqui. Deixe o supermercado em paz. Fora
saci. Saci! Cadê o saci? Ele fugiu daqui. Ele se
escondeu dentro da máquina de lavar roupa. De repente,
uma criança apareceu com a solução. Ela me entregou uma
peneira, me posicionei lentamente perto dele e
joguei a peneira em cima dele. Depois com cuidado o fiz
entrar dentro de uma garrafa de vinho vazia, depois
fechei a garrafa, alguém me lembrou para não me esquecer
de fazer uma cruz na rolha. Com tanta confusão Saci
perdeu seu cachimbo. Por causa do movimento de
preservação do meio ambiente ele colaborar e deixou de
fumar e adaptou-se ao novo tempo. Ele me pediu que lhe
arranjasse alguns bambus para ele viver...
Acredite, agora sou uma criadora de sacis. Aqui em casa
existe uma espécie de berçário de sacis...Temos recebido
a visita de alguns sacis importantes que vem de longe
nos trazer seu apoio. Muita gente está levando
sacizinhos para povoar as matas de onde eles já foram
abolidos. E sabe quem é culpado disso tudo: O homem, o
homem, o homem.
Elizia Vatrim
www.faseartesa.elizia.nom.br |