História 16
Em decorrência do desmatamento indiscriminado, o saci corre sério risco de ser extinto. Algumas escolas deixam de lado personagens da cultura popular brasileira e festejam o Halloween (dia das bruxas).

Madrinha Catarina fora quem introduziu o saci em nossas vidas, minha e das outras crianças lá da roça. Quando criança , morava na roça em São João dos Cavalheiros, município de Três Barras em Santa Catarina. Na boca da noite estava eu e mais algumas crianças na casa de madrinha Catarina nos esquentando a beira do fogão a lenha assistindo-a contar histórias, de repente, ouvimos um tropel, um dos cavalos relinchava desesperado, madrinha nos disse que era o saci-pererê o responsável, ninguém teve coragem de sair e conferir...Pelo sim e pelo não resolvemos dormir na casa dela, de madrugada outra confusão, desta vez, a barulheira vinha da cozinha, alguém estava mexendo nas panelas, nos talheres, parecia estar jogando louça na parede, de novo madrinha nos disse que era o saci-pererê que estava aprontando...Na manhã seguinte, lá estava o cavalo com a crina e o rabo com trancinhas, sem dúvida: era coisa de saci. Bom, cresci e deixei essa história de saci de lado. Mas...
Outro dia fazendo compra num supermercado gigante em Curitiba, encontrei um saci morando dentro de uma caixa de sabão em pó, ele me implorou para que o adotasse. Eu disse a ele –Agora sou uma mulher adulta e essa história de saci não me interessa mais! Isso é coisa de criança!
Ouvi um assobio, era o saci me chamando lá de dentro da caixa de sabão. Bati o pé e disse: eu não vou. Eu não vou. Você não me assusta mais. Mas o diabo do saci não parava de tirar as coisas do meu carrinho para jogar fora. Assim fomos lutando, até que me cansei e resolvi ouvi-lo. Ele queria morar na minha casa. Aí, perguntei: você só pode estar brincando comigo, né saci? Sabia, que os meus filhos já cresceram e eu quero sossego? Depois de ouvir as suas razões, entendi sua preocupação com sua possível extinção. Falou em extinção, falou comigo. Ah, me rendi rapidinho ao seu apelo . O problema é que saci não obedece a estranhos. Eu corria para um lado e ele aparecia em outro lugar, ele usa um gorro vermelho que lhe dá o poder de tornar-se invisível, fizemos uma bagunça danada dentro do supermercado. Quanto mais a freguesia fugia mais travessuras ele fazia. Era só gente correndo apavorada, ...E eu perguntava a todo mundo: Hei, você viu o saci? Cadê o saci que tava aqui? Cadê o saci que tava aqui? Você viu o saci por aí? Que barulho é esse? Que negócio é esse? É o saci que está quebrando tudo...Saci sai daqui. Deixe o supermercado em paz. Fora saci. Saci! Cadê o saci? Ele fugiu daqui. Ele se escondeu dentro da máquina de lavar roupa. De repente, uma criança apareceu com a solução. Ela me entregou uma peneira, me posicionei lentamente perto dele e joguei a peneira em cima dele. Depois com cuidado o fiz entrar dentro de uma garrafa de vinho vazia, depois fechei a garrafa, alguém me lembrou para não me esquecer de fazer uma cruz na rolha. Com tanta confusão Saci perdeu seu cachimbo. Por causa do movimento de preservação do meio ambiente ele colaborar e deixou de fumar e adaptou-se ao novo tempo. Ele me pediu que lhe arranjasse alguns bambus para ele viver...
Acredite, agora sou uma criadora de sacis. Aqui em casa existe uma espécie de berçário de sacis...Temos recebido a visita de alguns sacis importantes que vem de longe nos trazer seu apoio. Muita gente está levando sacizinhos para povoar as matas de onde eles já foram abolidos. E sabe quem é culpado disso tudo: O homem, o homem, o homem.
 

Elizia Vatrim

www.faseartesa.elizia.nom.br

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